7 de abril de 2008

romantico ma no troppo

O Rogério contou-me uma coisa que me deixou a pensar. Contava-me a conversa com uma amiga que dizia, em jeito de remate " Tenho tanto dó de pessoas que não são românticas."
Isto deixou-me mesmo a pensar, é verdade. É que eu acho que há um certo facilitismo, uma certa acomodação, uma certa frieza nos dias, que nos faz esquecer de sermos românticos.
Eu (pois de quem hei-de falar se não de mim) já fui romântica. Já fiz coisas bonitas por amor, já fiquei feliz com coisas românticas que fizeram por mim, mas é como se a gente se fosse esquecendo disso, e durante muito tempo eu até fazia troça dessas coisas que, afinal, nos alimentam muito mais do que queremos admitir.
Até recentemente. Até que alguém voltou a ter gestos bonitos. Até que alguém voltou a dar-me flores sem motivo aparente. Até que alguém voltou a ter pequenos gestos, tão pequenos e tão grandes. Até que alguém voltou a lembrar datas. Até que alguém apareceu de noite apenas para deixar uma caixa de chocolates. Até que alguém voltou a servir-me champagne ao jantar. Até que alguém me ofereceu uma ferramenta eléctrica no dia dos namorados. Até que alguém voltou a pegar em mim, como se eu fosse bonita, e me levou a ser feliz.
O romantismo é também vontade nossa, não? Predisposição para aceitar o que nos querem dar. Vontade de retribuir, mesmo que nem se saiba como.
É como se, de tantas cantadas gratuitas, de tantos avanços a partir de gente que não nos é nada, que não nos viu nunca como somos, como se depois de tantas aproximações tendo sempre em vista receber qualquer coisa em troca, criássemos um escudo que nos impede de distingir as diferenças.
Até ao dia em que a diferença é inequívoca. Até ao dia em que uma tela que penduramos na parede tem pétalas e um poema que nos leram ao ouvido.
Não quero que a amiga do Rogério tenha pena de mim. Não quero ter pena de mim. Não quero olhar ao espelho e ver uma mulher amarga.

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