13 de abril de 2008

a minha avó

Fazias-me laços nos vestidos quando eu era pequena. Zangavas-te comigo quando eu deitava os papéis dos chocolates para a lareira. Tinhas bombocas para mim quando eu chegava a tua casa. Envergonhavas-te quando o avô te fazia uma carícia à nossa frente. Não eras mulher de afagos mas nunca faltou carinho nas tuas atitudes. Eras a alma da casa mesmo quando envelheceste e ficaste incapaz de comandar e organizar como sempre gostaste de fazer. Derretias-te como mel com os teus bisnetos, à medida que tos fomos dando. Gostavas de ter a casa cheia de gente e nunca te desorientaste com a confusão que era estarmos todos juntos em tua casa. Sentavas-te na tua cadeira baixinha de verga e mantinhas vivo o lume, armada de capacho e tenaz.
Passaste a vida vestida de luto por quem te ia morrendo e mostravas uma certa pena quandos nos vias, as tuas netas, vestidas de preto e adivinhavas que não vestiríamos luto por ti. Fazemos-te o gosto, avó, e vestiremos preto por ti, para que aí nessa estrela onde te sentas e nos olhas, possas sorrir, já que morreste a chorar e a pedir perdão aos teus santos por desejares morrer.
Tomaremos conta do avô como tomámos conta de ti, ele que nos seus 90 anos tanto tem chorado por teres morrido. Seria uma magnífica história de amor, disseram-me, ele ter-se abalado ao ponto de ir para o hospital no dia em que nos despedimos de ti, no cemitério. Mas não são precisas histórias, tu sabes o quanto foste amada pelos teus filhos, pelas tuas netas, e disseste-nos muita vez o quanto isso te fazia feliz.
Despedimo-nos de ti, deitada na tua urna, no teu aparente sono tranquilo e guardamos connosco, além de todas as outras memórias que nos deixaste, o teu ar sereno.
Descansa bem, avó, que aqui fica quem sempre muito te amará.

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