8 de abril de 2008

o acordo ortográfico, este acordo

Se calhar estou a ser um bocadinho velho do restelo, se calhar se tivéssemos sido sempre assim, ainda estávamos a escrever como D. Dinis, o que até poderia ter a sua piada. A verdade é que isto do acordo ortográfico, este acordo, não me está a entrar.
As consoantes mudas. Elas podem ser mudas, mas são necessárias. Quando se retirou o "c" de Victor, este nome passou a escrever-se Vítor, com acento; porque o "c" estava lá para acentuar o "i". Esta consoante era muda, mas estava lá por um motivo. Ou seja, retirar estas consoantes, far-nos-á ler as palavras por intuição, mais do que por regra.
É verdade que as coisas têm de mudar. Também é verdade que convém que seja para melhor. E depois as pessoas adaptam-se, é sempre assim. A minha objecção (com "c" antes do "ç" para abrir o "e") prende-se com o facto de a mudança, esta mudança, ser feita com facilitismo, sem aparente respeito pelo trajecto de cada palavra.
Fico triste, sim, fico triste.
E agora, só pela piada:

Gosto do teu rosto exacto,
com o cê bem desenhado,
mesmo quando não se ouve,
para te pôr, como laço
nos cabelos, o circunflexo
em que nenhum traço há-de
faltar, mesmo que um pacto
sem cê nem concessão te
roube o pê nessa pose
de pura concepção.

Nuno Júdice

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