2 de abril de 2008

Népszabadság


Este não foi o primeiro amor da minha vida, mas foi, com certeza, a primeira história de amor da minha vida.
Ele, Gábor, húngaro, quase nos trinta. Eu, adolescente. Quando nos conhecemos, na festa do Avante, no stand da Hungria eu fazia trabalho de voluntariado. Ele era um dos representantes do jornal. Nada mais. Se não fosse tudo o resto que esse ano a Festa me deu.
Quando, uns anos mais tarde, sem eu bem saber como, me vi a passar à frente da redacção do jornal, em Budapeste, pensei que se há histórias de amor que não se podem contar, também há as que é melhor deixar guardadas, e por isso não entrei, não o procurei, não perguntei se ainda ali estava. Nada. Apenas me deixei ficar por breves instantes, olhando o edifício, de sorriso escondido.
Há memórias que o melhor é não voltarem a ver a luz do dia, não vá acontecer-lhes como os vampiros e desfazerem-se em pó, em nada.
Assim guardo esta, sem sequer a contar, envolvida nos panos de bordado húngaro, nas notas rasgadas ao meio, escudada dos efeitos devastadores do tempo que passa, naquele sítio do coração onde guardamos as mantas quentes que nos aquecem nas noites mais frias.
(Quando for velhinha, não vou lembrar-me de muitas das histórias que vivi, mas quero lembrar-me desta, da cicatriz com que fiquei acidentalmente, mas em que ninguém repara, do Gábor, da sua cara de Che magiar, do seu sorriso divertido e confiante, do acelerar de coração.)

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