7 de abril de 2008

de um certo tipo de amor

O Pratas sabia. Conhecia-me bem, e não é fácil conhecer-me. Mas gostava de mim e estava atento. Por isso quando lhe calhava passar pelo Rossio, trazia-me abóbora cristalizada. Daquela que mais gosto, em tiras claras e fininhas. Nem nessas alturas eu lhe dava um beijo, em jeito de agradecimento, mas sei que ele via no meu sorriso o quanto me tinha deixado feliz. Sim, que eu sou uma mulher simples e fico feliz com estas coisas.
Às vezes não ma dava em mão. Eu chegava, abria a gaveta da secretária e lá estava o embrulhinho para mim. Sem bilhete, que nem era preciso, quem mais para me mimar assim? Outras vezes eram aquelas cavaquinhas cobertas com calda de açúcar. Ou uma bola de berlim. Ou um postal, no dia dos namorados, com dois buraquinhos feitos com o bico da esferográfica e um malmequer lá preso. Outras vezes eram pequenos livros de poesia ou saquinhos de vidros coloridos. Ou ele à minha espera à saída do barco porque estava a chover. Ou ouvir-me falar horas a fio sobre o que me entusiasmava. Ou voltar sempre ao pé de mim mesmo nos meus dias maus, aqueles mesmo maus, que afastavam qualquer um. Excepto o Pratas.
Ele soube que eu gostava dele. Mas terá sabido o quanto eu gostava? Saberá agora da falta que me faz? Da falta que ainda me faz?

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