30 de junho de 2008

honte de quoi?

Parece que há coisas em nós que envergonham os outros. A vergonha é uma coisa estranha. Não aquela vulgarmente chamade de timidez. Nem o embaraço. É mais do que isso.
Falo de quando fazemos coisas que envergonham quem se dá connosco. Lembro-me do bêbado do planeta que o Principezinho visitou, que bebia para esquecer que tinha vergonha de beber. A vergonha era sua, nascida de actos seus, nada temos a ver com isso.
Mas, e quando alguém nos diz que tem vergonha de nós? E se nos fôr alguém próximo? Se alguém de quem gostamos nos disser que tem vergonha de nós? E se nós acharmos isto profundamente injusto, egoísta e absurdo? Se soubermos que essa vergonha nasce de um preconceito e não pudermos fazer nada porque o preconceito não é nosso?

16 de junho de 2008

Paris, je t'aime :)

Esta semana não contem comigo, não estou cá. Ou melhor, estou fisicamente, mas a minha cabeça está nas nuvens. Nas nuvens que vou ver quando o avião as sobrevoar a caminho de... PARIS!!!!
Oui, bien-sûr, moi, je vais à Paris. Moi et mon pauvre français, nous allons à Paris!
A contagem agora é descrescente e aproveito as esperas ao telefone, aqui no escritório, para ir imprimindo dicas, à sucapa.
Entretanto, vou relembrando as aulas de francês, a ver se não me escapa o vocabulário essencial e os nomes de tudo o que tenho que visitar.
(Bonjour Nicole! Bonjour Robert! Bonjour Patapouf! Ah, como isto vai longe...)
Portanto, foi preciso chegar a esta provecta idade e ter uma filha que amará a Eurodisney para me decidir. Que pena não ter entretanto enriquecido para me poder embrenhar na cidade toda. Mas não faz mal, pelo menos vamos. A minha filha saltita de contentamento e eu só não o faço também porque era capaz de parecer mal. Mas estou em pulgas.
É a viagem, a cidade, a amiga que vou reencontrar, o mais-que-tudo que me vai beijar em Paris junto ao Sena (espero...), sou eu a perder um ano de idade com cada euro gasto nesta bendita viagem.
Ah, nunca mais é Samedi...

12 de junho de 2008

tango

Talvez eu tenha nascido na época errada. Nasci com certeza na época errada. Nasci numa época média, mediana, comedida, conformada.
E eu queria arrebatamento. Amor inteiro, entrega incondicional, vontade absoluta, paixão latina de fazer sobressair as veias, coração acelerado, tango.

com facas não se brinca

Um dia, mais ou menos à saída da adolescência, a minha prima, grande amiga, quase irmã, Maria Manuel ofereceu-me o Livro em Branco. Como quando se ama se põe um certo cuidado no que se faz, não se limitou a embrulhar o livro. Comprou aquele tecido para bordar, acho que se chama quadrilé, já não me lembro bem, apesar de tantas vezes ter ido com ela à baixa comprar metros disso para os seus fabulosos trabalhos manuais. Comprou então o quadrilé e bordou nele um ramo de flores amarelas, retirado de um esquema que ela sabia que eu gostava especialmente. Com esse quadrilé bordado forrou o livro e então sim, deu-mo, dizendo que era para eu escrever o meu livro, finalmente.
Mas um Livro em Branco intimida e eu decidi que nele não escreveria nada de meu. Então esse livro serviu para eu ir guardando frases, poemas, pensamentos, aquilo que ia encontrando escrito por outros, com que de alguma forma me identificava.
Entre tanta coisa, está por lá uma frase do Joaquim Pessoa que diz qualquer coisa como "Palavras, amigas que não partem; e ficando resistem à memória." E ontem lembrei-me dela. Pensei nas palavras. As que dizemos, as que ouvimos, as que não chegamos a ouvir, as que gravamos, as que escrevemos, as que não apagamos.
Porque há palavras que nos reconciliam com os dias e há outras que quase nos matam de dor. Porque há palavras que são guardadas e nós não percebemos porquê. Porque há palavras que deitamos fora porque sabemos que se forem realmente importantes hão-de permanecer na memória.
No final de tudo, aquilo que importa é a razão que nos move: porque escolhemos as que escolhemos? Porque guardamos as que guardamos? Porque as carregamos connosco? Porque evitamos algumas? Porque repetimos outras tantas? Como diferenciamos e relativizamos as que atiramos para o fundo de uma gaveta para só encontrarmos por acaso, das que carregamos connosco no telemóvel ou em papelinhos dobrados na carteira?
Como esquecemos palavras duras que teimam em ecoar-nos no cérebro? Como faremos para nos lembrarmos da formulação exacta daquelas que podem ter mudado a nossa vida?
As palavras são uma faca de dois gumes, e com facas não se brinca.

11 de junho de 2008

frase do dia roubada à sophia

Nunca mais servirei senhor que possa morrer.

6 de junho de 2008

Distimia

Se perguntarem, a maior parte das pessoas responderá que não, que não quer saber quando nem como morrerá. Porque há ausências de resposta que nos libertam, qualquer coisa ao bom estilo "olhos que não vêm, coração que não sente".
Foi mais ou menos isto que senti ontem quando o meu médico aprofundou o seu diagnóstico, após uma longa hora de conversa, após várias consultas, alguns anos de medicação e alguma terapia psicológica. Distimia, largou ele. E eu, desprevenida, apanhei com a desconhecida palavra em cheio na cara.
Depois ele explicou, e assim justificou que eu não devo pensar em parar com a medicação.
Eu sei como sou, sei como sempre fui, sei dos escapes que fui engendrando para ir fugindo de mim, sei dos lutos que fui deixando por fazer, sei das situações de que fugi, sei de tudo isso. Sei também da tristeza sem motivo aparente quando era criança, depois quando era adolescente, mas também sei de como fiz das tripas coração para fugir a esse quadro.
Agora ele diz-me isto, que não há fuga possível, que só há refúgios.
Deitada por terra, só pensei que preciso de um refúgio para fugir a este refúgio.
E pensei nos meus pais, para quem não tenho sido uma filha fácil, e nos meus amigos, para quem tenho sido uma amiga ausente, e nos homens de quem gostei, de quem sempre me afastei, e neste que amo agora, que tenho medo de perder para uma doença com nome feio. E na minha filha, que diz que vê nos meus olhos quando estou triste mesmo que lhe sorria.
Como é que se vive tendo medo de nós mesmos?

5 de junho de 2008

palavras para ti, chefe


"Quem meus filhos beija, minha boca adoça"

Podes até não beijá-la, nem adoçar a minha boca, mas pelo menos, não a faças chorar com o teu egocêntrismo.

4 de junho de 2008

desamizade 2

Os amigos que afinal não são amigos entristecem-me. Por isso confio tão pouco. Mas, mesmo confiando pouco, às vezes baixo as defesas e acredito quando me dizem "confia em mim, sou tua amiga".
Eu já andava desconfiada, que tenho esta espécie de dedo que pressente a confiança que posso ter nas pessoas, e hoje decidi experimentar. E entristeci-me. Ainda tinha a vaga esperança de ter resposta diferente, mas não.
E dia em que se perde um amigo, mesmo que seja dos mais pequenos e ausentes, é sempre dia de tristeza, não há volta a dar-lhe.

espelho meu

Todos os dias quando me levanto, a primeira coisa que faço é ir para a casa-de-banho, como uma zombie. Acho que nos primeiros minutos do dia não conheço outro caminho.
E todos os dias lá está o espelho refletindo-me mal abro a porta.
Não fora dar 7 anos de azar, já o tinha partido. Também com tanto azar, mais ano menos ano, não seria grande a diferença.
Mas por que raio falo eu do espelho? Porque o desgraçado, ano após ano, torna mais evidente que os cabelos brancos não desistem de crescer no meu couro cabeludo, e pior ainda, por vezes ficam espetados, como se atraíssem ao espelho para eu os ver melhor. O meu problema não está nas rugas nem nas olheiras, nem no envelhecer. Está no espelho que me parece gritar: PINTA O CABELO. E eu não quero e todos os dias me debato com este dilema. Já experimentei não me olhar ao espelho, mas os malditos cabelos, os brancos, parecem reproduzir-se e quando dístraida mexo na juba, lá tão os desgraçados. E até o pirralho da minha filha me diz: "mãe, tens que pintar o cabelo".
A minha hesitação baseia-se no receio de alterar algo mim, já que tudo é de origem. Não há cá silicone nem nada dessas cenas, é tudo natural. E sinto-me hesitante em mudar até a cor do cabelo. Sei que se o fizer, vou sentir necessidade de alterar outras coisas. E se me dá para diminuir as mamas, pôr piercings, tatuar-me, fazer alguma dieta maluca?
E se me dá para fazer madeixas azuis ou vermelhas?
Hum... Seria pior a emenda que o soneto.
Vou adiar mais algum tempo esta minha decisão, e não adianta reflectires-me todos os dias, ó estúpido. Eu posso ir envelhecendo e modificando-me, mas tu continuarás sempre espelho, igualinho.



desamizade

Tanto eu como a Flor trabalhamos com o Luís há 15 anos. Ele já cá estava havia 6 ou 7 anos quando chegámos. Esta já era a casa dele, a casa que contava mais do que a que partilhava com a mulher.
Tornámo-nos amigos. Trabalhei com ele no mesmo gabinete durante pouco mais de 1 ano, e depois mais alguns a acessorá-lo, no gabinete ao lado. Almoçávamos juntos, bebíamos juntos cerveja ao final do dia. Ligava-me à noite para partilhar o que o fazia feliz ou infeliz. Foi ao meu casamento. Ríamos e conversávamos longas horas, fechados no seu gabinete, enquanto trabalhávamos, lutámos pelos mesmos objectivos.
Depois ele mudou de funções e agora trabalha directamente com a Flor. Há um montão de anos. Também eles eram amigos, éramos os 3. Gosto do Luís como se gosta de um irmão. Por isso me dói o estado a que se deixou chegar. Por isso me dói que ele e a Flor mal se olhem. Porque ela adoeceu e ele não compreendeu as limitações a que se viu forçada. Porque também ele adoeceu e a doença não lhe permite ver além dele mesmo, nem ouvir, e hoje, ouvindo as mágoas desta minha amiga, surgiu-me a palavra certeira: Indiferença. O Luís tornou-se indiferente a todos. Mesmo a nós, suas apoiantes em tudo, certo ou errado, que faça. Tornou-se indiferente a problemas pessoais, a dias difíceis, a filhos, à mulher, a tudo o que não seja o seu trabalho. E mesmo aí tornou-se inflexível, culpando todos pela sua insatisfação.
Dói-me por ele e por ela. Dói-me quando chego à secção onde trabalham e sinto a tensão no ar e não consigo penetrar.
Às vezes, se fico um pouco mais no final do dia, ele chama-me a si e fala. E eu também falo, e parece que ele ouve. Mas no dia seguinte já se esqueceu, e tudo volta a esta normalidade cinzenta que não ajuda ninguém.
Muito menos aos dois, que tanto precisavam de contar um com o outro.

3 de junho de 2008

um recado para o céu

Ah, pois é! Por acaso pensava que se livrava de nós de qualquer maneira e que no céu estaria sossegado, sem aquelas tipas.
Agora que tem tempo para tudo, aposto que passa os dias debruçado cá para baixo, a deitar o olho para ver o que fazemos e o que dizemos, coçando o bigode de vez em quando e rindo trocista das nossas gaffes.
E até o imagino já perito em pc's, fazendo downloads, porque aí o tráfego é ilimitado e já não precisa de ir às escondidas espreitar o blog das meninas nem estragar o computador de ninguém.
Hoje vou encher dois balões e escrever-lhes: parabéns tonecas e fazes-nos muita falta. Não precisam de subir muito alto porque eu sei que deve estar à espera, para ver se esquecemos esta data ou não. E no céu, hoje deve ser uma festança, com direito a bailarico e tudo, pois onde você está, a alegria e a boa disposição não faltam. E aposto que já deve estar a ler estas palavras, debruçado sobre o monitor e a dizer "esta cabrona".
Eu não sei se quando as pessoas morrem vão para o céu ou não. Mas acredito que o seu espírito subiu a um lugar bonito, onde está sempre de olho em nós. Para mim é o céu, porque o merecia. E imagino-o sentado, recostado numa cadeira, pés esticados, com os painéis solares apoiados sobre a cana do nariz, a apreciar a vista cá para baixo. E a sorrir.
Este recado é para si, Pratas. Espero que o receba. Um beijo de parabéns.

lista de compras

Que diga: se não gostas, não volto a fazê-lo. E que peça desculpas por tê-lo feito. Que não boceje quando ela lhe conta o que sonhou. Que tenha medo de a perder e que o diga e demonstre. Que sinta ciúmes mas que goste de a ver passar bonita, na rua. Que a leve a ver o mar e lhe traga girassóis. Que não deixe escapar pormenores e que saiba contruir o puzzle. Que seja crítico, mas flexível. Que lhe grave uma canção para ela se lembrar dele. Que às vezes não faça perguntas mas que adivinhe as respostas. Que lhe diga com gentileza qual a roupa que não lhe fica bem. Que faça cedências. Que a sossegue em noites de insónia. Que lhe empreste um casaco leve nas noites frias de verão. Que fique feliz quando ela lhe dá o presente que não era o que ele queria. Que seja atencioso sem ser condescendente. Que saiba em que armário de casa dela estão os copos e os vá buscar. Que não aja só como acha que é correcto, mas que saiba o que para ela está certo fazer. Que não a compare com ex-namoradas. Que não deixe que se esqueça, nem por um segundo, de que é única, a única.
Há uns meses tinha feito esta lista de compras mas, como é meu hábito, não a publiquei. Ficou nos rascunhos à espera de melhores dias, que esses, dizem, sempre virão.
Ontem à noite, às volta com as minhas familiares insónias, lembrei-me dele. Lembrei-me que esta lista tem ficado pendurada como a da minha cozinha, aquela que vou fazendo á medida que as coisas vão acabando, mas que nunca me lembro de levar comigo quando vou ao supermercado. Aquela que se vai mantendo pendurada porque há sempre coisas em falta.
A questão talvez seja: esses items que vão ficando, serão eles indispensáveis? Ou serão apenas uma espécie de luxo, de conforto, de mimo? Algum destes items se pode equiparar à abóbora cristalizada que incluo na lista da cozinha? Eu posso viver sem abóbora cristalizada, mas vivo bem? Onde é que é razoável traçar a fronteira entre o necessário e o acessório? Como é que defino o acessório se para mim tudo acaba por ficar ao mesmo nível?

avestruz

Em boa verdade eu já deveria ter dito alguma coisa sobre a vitória da Manuela Ferreira Leite para a presidência do PSD. E sobre os cerca de 17 mil que ainda escolheram o Santana Lopes. E sobre a alegriazinha do nosso PM com este descalabro mal arrumado. Também sobre o Manuel Alegre em jantares com o Louçã.
Em boa verdade também deveria já ter dito o que sinto pela forma como são tratadas as vítimas das mais recentes catástrofes naturais e pelos seus governos. E sobre o renovado patriotismo dos meus conterrâneos agora que chega mais um europeu. Também já devia ter aberto a boca acerca da subida do preço dos combustíveis e acerca das crónicas do Mário Soares no DN.
Mas para factores que agravem estados depressivos já bem bastam os que gravitam em redor do meu belo umbigo.

2 de junho de 2008

Bon Jovi Live @ Rock in Rio Lisboa- You Give Love A Bad Name

Tá bem, não sou fã nem nunca fui. Mas a gente conhece as canções, quer queiramos, quer não, também crescemos com elas, e voltar a ouvi-las é rejuvenescermos umas duas dezenas de anos, e ele até é um frontman digno do título e assim, e às vezes é bom esvaziarmo-nos e deixarmos entrar alguma futilidadezinha, de tal modo que, de entre os vários concertos dos dois dias em que fomos, exceptuando o do João Gil no Sunset, este foi mesmo o mais envolvente.

E este ano portei-me tão bem :)