6 de março de 2008

setenta primaveras

Parabéns, pai.
Hoje que completas setenta primaveras não passaria sem te dar um beijo. Sem te deixar algumas palavras, aquelas que me são permitidas dizer-te. As outras, aquelas que não cabem no nosso espaço, que ficaram caladas ao longo dos anos, já não fazem sentido.

Queria entrar por aquela porta e saltar-te para os braços, abraçar-te e dizer-te parabéns, dizer-te que a vida nem sempre me tem tratado bem, que tenho caído várias vezes e que me tenho reerguido a custo, sem que tu o sonhes. Terás tu andado distraído ao longo dos anos ou terás pensado que por eu ter crescido, já não preciso de ti?
Não houve tempo para falarmos. As palavras ficaram presas na minha garganta, enquanto tu apenas me repreendias, sem leres nos meus olhos o desassossego, a dúvida, tantas vezes o medo.
E eu sonhava poder sentar-me no teu colo e contar-te os meus segredos, enquanto tu contavas os minutos que eu me atrasava.
Não houve espaço para crescermos de mão dada.
Hoje vou entrar por aquela porta , vou dar-te apenas um beijo e dizer-te: parabéns pai. O abraço fica adiado... Uma vez mais.

1 comentário:

Nat disse...

Em tempos tive um blog que se chamava Freud, o meu pai e eu. Podia sugerir-te que tentasses, mas não há exorcismo possível. É o que é, Flor, e "o que não nos mata, torna-nos mais fortes".