14 de março de 2008

inusitadamente agradável

Eu sei que já não sou uma jovem de carne firme e pele lisa. Que pari uma filha e que tenho as mãos marcadas pelos detergentes. Que às vezes me arrasto mais do que ando. Que tenho celulite, barriguinha mole e cabelos com pontas estragadas. Que carrego sacos de supermercado em vez de sacos chiques com coisas fantásticas lá dentro. Tenho espelhos e não me iludo. Talvez por isso, classifiquei como inusitado este acontecimento de final de dia.
Eu explico.
À saída do escritório, atravessei a avenida e dirigi-me para a paragem de autocarro. Um carro de passagem apitou-me, como tantos, nem liguei, e continuei a tentar desenrolar o fio do meu mp3. O carro encostou e ligou os 4 piscas. Eu segui o meu caminho, só mais uns passos, até que, de dentro do carro, o homem me chamou: "Se faz favor." O homem era giro, giríssimo, mais novo do que eu, todo beto, mas um petisco. Abriu a boca e saíu a tanga: "Estou a chegar de Coimbra, não conheço aqui nada, onde é que se sai à noite?" Eu ri-me para ele, tinha sido um dia fantástico, eu estava bem disposta, apeteceu-me rir. Hesitei ainda na resposta, enquanto fazia contas de cabeça, que depende do que se gosta, que há imensos sítios onde ir. Ele insistiu e perrguntou-me se costumo sair à noite. E continuou.
Eu olhava para ele e entre risos divertidos pensava que ali estava uma coisa interessante de acontecer assim, do nada, a uma mulher. Como daquela vez em que um homem me pagou o café, sem me conhecer, mas esse não pediu nada em troca.
O homem acabou por seguir acompanhado com a minha recusa, no seu carro reluzente, ele próprio lindo-lindo e eu fiquei a simples fantasia que afinal ia buscar a filha à escola.
O meu ego, por momentos, ficou do tamanho do mundo. Eu e as minhas estrias tinhamos despertado, ao caminhar na rua, mesmo de costas, o interesse e o desejo de um homem, ao ponto de ele parar para no-lo dizer.
Logo mais, ao lavar a louça do jantar, hei-de voltar a sorrir, ao relembrar o episódio.
Quanto ao homem lindo-lindo, pode ser que volte a passar, à mesma hora, no mesmo sítio. Nunca se sabe.

3 comentários:

Anónimo disse...

Tu não tens estrias, que eu bem sei. Gostei de te reencontrar. Se for eu a parar o carro...?

**

Anónimo disse...

ao menos aproveitavas a boleia!

:)

Anónimo disse...

Surda aos apelos do homem enquanto ouvia o MP-3!.
As ciladas das fantasias!
Bjs bom s�bado