28 de março de 2008

fantasmas

"Mas a felicidade é frágil,
e quando a não destroem os homens ou as circunstâncias,
ameaçam-na os fantasmas."
M. Yourcenar
Austin O'Malley disse: ""A memória é uma velha louca que deita comida fora e guarda trapos coloridos." Às vezes o que se guarda não é tão colorido assim, mas é definitivamente imprestável. Guardamos palavras duras e actos egoístas. Guardamos frases frias e atitudes desapegadas. Guardamos ressentimentos, passos falhados, ausências em momentos de sede.
Ainda que tentemos ir empurrando estes fantasmas para o fundo da gaveta, a verdade é que os guardamos. E então, de repente, como naquelas caixinhas em que salta um boneco na ponta de uma mola, a nossa tranquilidade é assaltada por temores passados, por inseguranças, por dúvidas.
Separar a razão da emoção só será possível depois, quando chegar a bonança, mas ainda assim, será uma análise subjectiva. Tanto uma como outra co-existem de tal modo que não se perdem de vista, uma sempre no caminho da outra, as duas sempre no nosso caminho, o nosso caminho sempre cheio de pedras.
Seria bom, por vezes, podermos acordar no alento da tábua rasa, no calor da ignorância, na cama do esquecimento.
Só de vez em quando.

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