18 de março de 2008

mero adereço?

Para a reunião com o administrador, entram os dois engravatados mais vaidosos que por aqui se passeiam. Não nutro especial simpatia por nenhum deles, ainda que muitas vezes tenha de trabalhar com eles directamente, até mesmo em viagens de horas, fechados num carro, dio mio, o que isso me custa.
Não obstante, desempenho o meu papel de anfitriã, escudada no à-vontade do administrador que é, afinal, o único a quem tenho de prestar contas. Dispostos em cadeiras à volta da mesa hexagonal, saio de fininho e refugio-me no gabinete ao lado, o meu, a postos para os vários chamamentos que se adivinham.
Antes de fechar a porta atrás de mim, ouço ainda o princípio da conversa inicial, o quebra-gelo antes do trabalho propriamente dito. Falam de alianças no dedo. Da tendinite de um e da alergia do outro. Armam-se em valentes, brincando com o facto de não as poderem retirar do dedo, não vão as respectivas pôr-lhes as malas à porta. Para mim vou pensando que não seria por isso que o fariam, as histórias correm pelos corredores e bem sabemos de que liga são feitos estes dois engravatados.
E ocorre-me ainda pensar no que é isto de usar aliança. Uma aliança é uma marca exterior que diz aos outros que alguém é nosso dono ou é, como o nome indica, o símbolo do que nos une a outro? Uma aliança é aquilo que se tira e esconde no bolso ou pretende ser uma barreira que impeça aproximações indesejadas? Uma aliança é a mensagem de que já nos arrumámos na vida ou o aro que se dissimula entre outros anéis? Uma aliança é prova de amor ou reminder de que há um compromisso a respeitar? O que faz com que duas pessoas (ou será só uma?) decidam se a vão ou não usar? Em temos efectivos, que diferença faz este pedaço de metal no dedo?

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