13 de março de 2008

contos exemplares

Esta é outra Mónica. Que não se chama Mónica.
Também não vai a ginásios, não tem com quem deixar a criança e não pode suportar mais essa despesa com o vencimento mensal. Também não sabe ao certo se teria muita paciência.
Não come comida japonesa nem tailandesa, joga pelo seguro e continua a apostar no cozido à portuguesa e na feijoada quando é domingo de almoçar em casa dos pais.
Não faz compras em lojas gourmet nem em mercados biológicos. Passa à pressa pelo pingo doce, à chegada a casa, e enche o cestinho com produtos de linha branca. Também não compra iogurtes magros nem vinagres balsâmicos, às vezes logo à segunda feira já está tão cansada que para si faz só, e chega, uma torradinha.
Não vai à cabeleireira nem à manicure, aproveita enquanto atende um cliente ao telefone para ir dando umas aparadelas nas pontas soltas e dar umas pinceladas com o verniz comprado nos chineses, nos dias em que não se dá ao luxo de pensar na mão de obra barata e explorada.
Não compra cds nem dvds, vai fazendo umas gravações à margem e deixando-os acumulados fora das caixas à espera de tempo para os passar para o mp3 ou para se sentar no sofá sem dormir.
Também não vai ao cinema, a não ser para levar a criança a ver filmes de animação.
Não afoga as mágoas em compras no shopping porque não pode vir a ter mais mágoas ainda.
Evita certos trajectos em certas horas de ponta porque já não sabe que mais há-de fazer ao carro para que não aqueça tanto o motor.
Coitada, chegamos nós, alguns, a pensar desta Mónica que não se chama assim, deve ser uma pobre infeliz. Curioso. É que não é nada assim.

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