2 de maio de 2008

15 anos

Faz hoje 15 anos que aqui trabalho, quase todos nesta cadeira, nesta sala, que promoções houve só uma e a partir daqui já não há mais para onde ir.

Há 15 anos nem me passava pela cabeça pensar a longo prazo, não sabia e não me preocupava em saber se iria ficar muito tempo, se esta casa iria acompanhar o meu casamento, o nascimento da minha filha, o meu divórcio, o meu renascimento. Não sabia nem me preocupava em saber se iria aqui fazer amigos, se iria chorar a morte de alguns. Nem se iria ter pela frente desafios de tirar noites de sono, elogios de tirar a respiração, fretes de ir ao vómito. Não sabia que haveria de ir ficando, mesmo quando outras portas se abriam e eu até queria mudar, mas ficava por uma espécie de amor a uma camisola que nunca soube muito bem se efectivamente me servia.

Eu era outra quando aqui entrei, primeiro para as entrevistas, depois para começar a trabalhar. Era outra que em nada se parece com esta que sou hoje. Esta que sou hoje já pensa: "Quantos mais? Quantos mais posso ficar?" Esta que sou hoje já é mulher, cansa-se e entusiasma-se, preocupa-se e rejubila quando resolve, quer ficar mas não quer.

Fique o tempo que ficar, daqui levarei ensinamentos vários, histórias de contar e outras de calar, desapontamentos e surpresas, um quase amor-ódio de que ninguém se apercebe.

Quanto ao que deixarei... terá sido uma espécie de metamorfose, um barulho de risos e de saltos altos nos corredores, de discussões com voz nervosa, alguns sonhos desfeitos, muita desilusão e a memória de me levantar do chão a cada dia.