27 de maio de 2008

da violência infantil

Vou chamar-lhe C. como podia chamá-la A. ou B.
Conheço C. desde os dois anos, pois frequentou até ao ano passado a mesma escola que a minha filha. Sempre foi uma menina triste, carente, isolada. E como as crianças são cruéis sem o saberem, muitas vezes era alvo do gozo dos outros pelas mais variadas razões.
Apesar de já não frequentar a mesma escola que a minha filha, mantêm muito contacto, pois mora perto de nós e passa muitos dias lá em casa, de manhã até à noite.
Ontem encontrei-a no supermercado e para além do habitual ar triste, as lágrimas teimavam em correr pelo seu rosto ainda criança. Perguntei-lhe o que se passava e as palavras atropelavam-se enquanto desabafou: a minha mãe tirou-me o telemóvel por eu ter partido 2 copos. E depois partiu o suporte do papel de cozinha para não mo partir em mim. E disse que se eu tivesse algum teste negativo, me espancava. As lágrimas corriam pelas suas faces ruborizadas, enquanto eu lhe passava a mão pelos longos cabelos castanhos e lhe dizia que hoje concerteza tudo correria melhor. Eu tive não satisfaz a Matemática. Agora ela vai-me bater e eu não quero ir para casa. Por favor, leve-me consigo para a sua casa. Tentei amainar o seu medo e o seu desespero, com a revolta a percorrer-me o corpo, sem perceber como se pode maltratar uma criança, como se lhe pode roubar os melhores anos, aqueles que devem ser os mais felizes, porque estão com os pais, e aí se deveriam sentir protegidos. Mas não, esta menina de 10 anos, cujos pais estão separados, que é maltratada por mãe, pai e padrasto, rematou a conversa, apercebendo-se que eu não a poderia levar comigo, dizendo: eu um dia fujo.
E vi-a afastar-se, lentamente, infeliz, depois de a beijar, de a tentar tranquilizar com palavras, nas quais eu sabia ela não acreditar, com uma raiva e uma revolta que só uma mãe pode sentir.
Das coisas que mais me chocam, a violência infantil é uma delas, porque se maltratam seres humanos indefesos, necessitados que alguém os ensine a crescer, que lhes mostre o caminho certo . E C., que não me saiu mais da cabeça ontem, é um desses pequenos seres humanos.



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