14 de maio de 2008

desculpa Mari

Pensei que aprendera a aceitar cada um como é, com as suas diferenças, com a sua personalidade. Não pensei que um dia chegasse a ser egoísta ao ponto de querer moldar os outros e até desejar que fossem à minha medida, de forma a não me darem luta e me deixarem estar quieta no meu canto. E não pensei que um dia pudesse descarregar nos mais fracos a revolta que por vezes me invade. Cobardia. Eu sei que o devia fazer com aqueles que me destabilizam, que me obrigam a percorrer os dias como se atravessasse uma corda bamba. E não pensei que o pudesse fazer à minha filha.
A vida ofereceu-me o maior presente que uma mulher pode receber: uma filha. Sonhei-a muito. Embalei-a nos meus braços e amparei-a nos primeiros passos, prometendo que o faria pelo resto dos nossos dias, que estaria sempre presente e que a minha mão lhe amorteceria as quedas.
Ontem gritei e disse-lhe coisas das quais à noite, sózinha, me arrependi. Não tenho o direito de a repreender por ser como é, e de querer que seja diferente, que vista saias rodadas, que use ganchos, que seja apenas uma menina porque ela é muito mais do que isso. É ela que me tem dado a mão para que eu não me desvie do caminho. É ela que não me tem faltado nem falhado. E tem sempre um beijo e um sorriso para me oferecer.
Ontem quando a abracei, já na cama, disse-lhe baixinho: desculpa, amor. Ela sorriu.
Desculpa, Mari.




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