4 de junho de 2008

espelho meu

Todos os dias quando me levanto, a primeira coisa que faço é ir para a casa-de-banho, como uma zombie. Acho que nos primeiros minutos do dia não conheço outro caminho.
E todos os dias lá está o espelho refletindo-me mal abro a porta.
Não fora dar 7 anos de azar, já o tinha partido. Também com tanto azar, mais ano menos ano, não seria grande a diferença.
Mas por que raio falo eu do espelho? Porque o desgraçado, ano após ano, torna mais evidente que os cabelos brancos não desistem de crescer no meu couro cabeludo, e pior ainda, por vezes ficam espetados, como se atraíssem ao espelho para eu os ver melhor. O meu problema não está nas rugas nem nas olheiras, nem no envelhecer. Está no espelho que me parece gritar: PINTA O CABELO. E eu não quero e todos os dias me debato com este dilema. Já experimentei não me olhar ao espelho, mas os malditos cabelos, os brancos, parecem reproduzir-se e quando dístraida mexo na juba, lá tão os desgraçados. E até o pirralho da minha filha me diz: "mãe, tens que pintar o cabelo".
A minha hesitação baseia-se no receio de alterar algo mim, já que tudo é de origem. Não há cá silicone nem nada dessas cenas, é tudo natural. E sinto-me hesitante em mudar até a cor do cabelo. Sei que se o fizer, vou sentir necessidade de alterar outras coisas. E se me dá para diminuir as mamas, pôr piercings, tatuar-me, fazer alguma dieta maluca?
E se me dá para fazer madeixas azuis ou vermelhas?
Hum... Seria pior a emenda que o soneto.
Vou adiar mais algum tempo esta minha decisão, e não adianta reflectires-me todos os dias, ó estúpido. Eu posso ir envelhecendo e modificando-me, mas tu continuarás sempre espelho, igualinho.



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