4 de junho de 2008

desamizade

Tanto eu como a Flor trabalhamos com o Luís há 15 anos. Ele já cá estava havia 6 ou 7 anos quando chegámos. Esta já era a casa dele, a casa que contava mais do que a que partilhava com a mulher.
Tornámo-nos amigos. Trabalhei com ele no mesmo gabinete durante pouco mais de 1 ano, e depois mais alguns a acessorá-lo, no gabinete ao lado. Almoçávamos juntos, bebíamos juntos cerveja ao final do dia. Ligava-me à noite para partilhar o que o fazia feliz ou infeliz. Foi ao meu casamento. Ríamos e conversávamos longas horas, fechados no seu gabinete, enquanto trabalhávamos, lutámos pelos mesmos objectivos.
Depois ele mudou de funções e agora trabalha directamente com a Flor. Há um montão de anos. Também eles eram amigos, éramos os 3. Gosto do Luís como se gosta de um irmão. Por isso me dói o estado a que se deixou chegar. Por isso me dói que ele e a Flor mal se olhem. Porque ela adoeceu e ele não compreendeu as limitações a que se viu forçada. Porque também ele adoeceu e a doença não lhe permite ver além dele mesmo, nem ouvir, e hoje, ouvindo as mágoas desta minha amiga, surgiu-me a palavra certeira: Indiferença. O Luís tornou-se indiferente a todos. Mesmo a nós, suas apoiantes em tudo, certo ou errado, que faça. Tornou-se indiferente a problemas pessoais, a dias difíceis, a filhos, à mulher, a tudo o que não seja o seu trabalho. E mesmo aí tornou-se inflexível, culpando todos pela sua insatisfação.
Dói-me por ele e por ela. Dói-me quando chego à secção onde trabalham e sinto a tensão no ar e não consigo penetrar.
Às vezes, se fico um pouco mais no final do dia, ele chama-me a si e fala. E eu também falo, e parece que ele ouve. Mas no dia seguinte já se esqueceu, e tudo volta a esta normalidade cinzenta que não ajuda ninguém.
Muito menos aos dois, que tanto precisavam de contar um com o outro.