6 de junho de 2008

Distimia

Se perguntarem, a maior parte das pessoas responderá que não, que não quer saber quando nem como morrerá. Porque há ausências de resposta que nos libertam, qualquer coisa ao bom estilo "olhos que não vêm, coração que não sente".
Foi mais ou menos isto que senti ontem quando o meu médico aprofundou o seu diagnóstico, após uma longa hora de conversa, após várias consultas, alguns anos de medicação e alguma terapia psicológica. Distimia, largou ele. E eu, desprevenida, apanhei com a desconhecida palavra em cheio na cara.
Depois ele explicou, e assim justificou que eu não devo pensar em parar com a medicação.
Eu sei como sou, sei como sempre fui, sei dos escapes que fui engendrando para ir fugindo de mim, sei dos lutos que fui deixando por fazer, sei das situações de que fugi, sei de tudo isso. Sei também da tristeza sem motivo aparente quando era criança, depois quando era adolescente, mas também sei de como fiz das tripas coração para fugir a esse quadro.
Agora ele diz-me isto, que não há fuga possível, que só há refúgios.
Deitada por terra, só pensei que preciso de um refúgio para fugir a este refúgio.
E pensei nos meus pais, para quem não tenho sido uma filha fácil, e nos meus amigos, para quem tenho sido uma amiga ausente, e nos homens de quem gostei, de quem sempre me afastei, e neste que amo agora, que tenho medo de perder para uma doença com nome feio. E na minha filha, que diz que vê nos meus olhos quando estou triste mesmo que lhe sorria.
Como é que se vive tendo medo de nós mesmos?